Expansão Marítima Europeia
A participação dos
portugueses no comércio europeu ganhou impulso no início do século XV, e isso
teve papel decisivo na organização das grandes navegações. As viagens e
conquistas dos europeus em novos locais que eram desconhecidos na Europa,
receberam na historiografia a denominação de expansão marítima europeia, essa expansão teve como pano de fundo o
estímulo dos reis somado ao interesse do grupo mercantil em ampliar sua área de
atuação comercial. Os nobres também se envolveram nas expedições, interessados
em conquistas e domínios. O evento considerado o marco inicial dessa expansão
foi a tomada de Ceuta pelos portugueses em 1415. Ceuta ficava no norte da
África e era um rico centro de negócios dominado pelos muçulmanos, porém, Ceuta
perdeu parte de sua importância como centro comercial, pois os árabes deixaram
de abastecê-la quando os portugueses a conquistaram.
Em busca de rotas
alternativas para fazer comércio no Oriente, os portugueses realizavam viagens
para poder contornar a África. A cada ano, as expedições portuguesas avançavam
mais ainda em direção ao sul. Em 1488, o navegador Bartolomeu Dias chegou ao
Cabo da Boa Esperança (antes chamado de Cabo das Tormentas), demonstrando a
existência de uma passagem para outro oceano, o Índico. Em 1498, Vasco da Gama
alcançou finalmente a cidade de Calicute na Índia, em expedição de
reconhecimento. Dois anos depois, partiu a primeira grande frota destinada a
fazer comércio em larga escala com o Oriente, comandada por Pedro Álvares
Cabral, que chegou também ao litoral do novo continente (a América) na costa do
território que viria a ser o Brasil.
Já na Espanha, após a
guerra de reconquista e expulsão dos mouros, em 1492, Fernando e Isabel deram
atenção aos planos do genovês Cristóvão Colombo, que lhes apresentou um projeto
de navegação para atingir as Índias dando a volta em torno do mundo, ou seja,
partiria da Europa e seguiria na direção oeste. Com três embarcações, Colombo e
sua tripulação partiram do sul da Espanha no dia 3 de agosto de 1492. Em 12 de
outubro, chegaram a terras que pensavam ser as Índias e Colombo morreu
acreditando nisso. Somente em 1504 o navegador Américo Vespúcio confirmou
tratar-se de um novo continente. Em 1494 foi elaborado, com a benção do papa o
Tratado de Tordesilhas, que dividia o “mundo descoberto” entre portugueses e
espanhóis. Obviamente, outros reinos, como o da França e o da Inglaterra, não
aceitaram essa divisão.
Interessados também em descobrir novos caminhos para as Índias, os franceses, ingleses e holandeses rejeitaram o Tratado de Tordesilhas e lançaram-se às navegações marítimas, concentrando-se no Atlântico Norte, pois espanhóis e portugueses já se dedicavam às rotas do Atlântico Sul. Embora nenhum novo caminho para as Índias tenha sido encontrado pelos navegadores a serviço desses países (França, Inglaterra e Holanda), eles passaram a explorar e ocupar tanto a América, como a África e a Ásia, além de praticar a pirataria.
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| Mapa mundial atualmente |
Os portugueses na África, o oceano Índico e as Índias Orientais
Entre os anos de 1487 e 1522,
completou-se a exploração das costas ocidentais e o contorno da África; o
acesso ao Índico; a travessia e o estabelecimento de rotas de navegação no
oceano Atlântico; a descoberta de um novo continente; o acesso ao oceano
Pacífico e a primeira circunavegação da Terra.
A importância das navegações ibéricas
daquele período foi importante para a formação de uma nova imagem do mundo.
Portugal unificou-se como estado e após a pacificação com Castela estava em
condições de iniciar uma fase de expansão que o tornaria uma potência
econômica. A dinastia de Avis foi muito importante para as navegações
portuguesas, pois D. João, mestre da Ordem Militar de Avis, teve um filho
chamado Henrique e ele é considerado o idealizador e mentor dessa expansão
portuguesa.
Os portugueses definiram inicialmente dois projetos de expansão ultramarina: povoar as ilhas da Madeira e promover viagens de reconhecimento ao longo das costas africanas para além do trecho já conhecido. O rei escolheu o navegador português Diogo Cão para dar sequência ao reconhecimento da costa africana, e ele (Diogo Cão) estabeleceu a prática de assentamento de padrões (assentamentos de padrões são marcos de pedra feitos para identificar os lugares alcançados), estabelecendo assim a prioridade do descobrimento e os direitos de exploração exclusiva para os portugueses.
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Fragmento do pé do Padrão original de S. Jorge, esse Padrão
é da cidade de Soyo, que fica na atual Angola.
Já o fidalgo Vasco da Gama foi responsável pela expedição que partiu de Portugal em julho de 1497, essa expedição avançou além do cabo da Boa Esperança e subiu a costa oriental da África. Na cidade de Melinde no Quénia, ele conseguiu apoio para a travessia do Índico, chegando em maio de 1498 na cidade de Calicute, na Índia. Essa viagem abriu uma nova e grande rota comercial ligando o Oriente à Europa e deu início ao domínio português naquele oceano. As expedições dos portugueses alcançaram a China em 1513, e, nesse mesmo ano, navios portugueses fizeram o reconhecimento do Mar Vermelho, costeando a península arábica. Já o Japão foi alcançado pelo viajante Fernão Mendes Pinto, em 1541.
O oceano atlântico, as Índias Ocidentais e o oceano pacífico
Incursões para a América é bem mais
antiga do que as expedições Ibéricas em 1492, pois o Canadá foi alcançado por
navegadores nórdicos a partir de portos nas colônias ao sul da Groenlândia. Há
indícios que essas viagens ocorreram no século XI, porém, não foi efetuado um
assentamento permanente que conseguisse colonizar as novas terras.
As grandes navegações e explorações sob
a bandeira dos castelhanos tiveram início sob o reinado de Fernando de Aragão e
Isabel de Castela em 1492. Tendo em vista que os portugueses tinham o controle
das rotas de navegação ao longo da costa africana, os espanhóis apoiaram a
estratégia de chegar às Índias navegando pelo oeste do oceano atlântico,
proposta essa que foi formulada pelo genovês Cristóvão Colombo, que por sinal fez
essa proposta aos portugueses antes de fazer para os espanhóis, porém, o rei de
Portugal à recusou.
Colombo empreendeu quatro viagens para
as terras onde viria a ser o continente americano, a primeira foi em 1492 e a
última foi em 1503. Conforme relatos da primeira viagem, Colombo alcançou e
tomou posse de ilhas do arquipélagos das Bahamas e das Antilhas, e, ele
acreditava ter chegado a ilhas orientais que fariam parte da Ásia.
A segunda expedição foi preparada para
responder às grandes expectativas de expansão territorial e de busca de
riquezas, diante disso, ele partiu com uma tripulação de 1.200 membros, entre
eles estavam marinheiros, militares e colonos. Colombo tomou posse de novas
ilhas do arquipélago das Antilhas e deu sequência à exploração de Cuba.
Na terceira viagem Colombo chegou na
atual Venezuela, tendo sido ele o primeiro europeu a avistar terras
continentais do novo mundo na sua porção sul (pois na sua porção norte os
nórdicos já haviam avistado). Após passar pela Venezuela, ele dirigiu-se para a
colônia de Santo Domingo, e lá defrontou-se com uma situação de guerra entre os
próprios espanhóis e, observou também o extermínio e o uso de trabalho forçado
dos nativos na produção de alimentos e mineração do ouro. As desavenças entre os
colonizadores resultaram na destituição de Colombo, que retornou como
prisioneiro à Espanha.
Reabilitado, o navegador empreendeu uma
quarta e última viagem às Índias (América), com quatro pequenas caravelas.
Depois de passar pelas Antilhas, ele explorou a parte central do continente e
recebeu notícias da existência de um grande reino nas proximidades (Astecas) e
de outro mar adiante daquelas terras (o Pacífico). Colombo regressou à Espanha,
em novembro de 1504, onde ele morreu doente e desprestigiado em maio de 1506.
Vicente Yanez Pinzón, que apoiou e
participou das duas primeiras viagens de Colombo, organizou uma expedição que
zarpou em dezembro de 1499 em direção às terras que Colombo descobriu na
terceira viagem. Em janeiro de 1500, Pinzón e sua tripulação desembarcaram em
terras que ainda julgavam tratar-se da costa oriental da Ásia, mas, eles
encontravam-se ou no Cabo de Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco ou na
Ponta de Mucuripe, no litoral do Ceará. Depois seguiram a costa do nordeste e
ainda no Ceará eles entraram em contato com nativos (os Potiguar), esse contato
resultou em confronto e mortes de ambas as partes. Após passar pelo nordeste a
expedição seguiu para o noroeste, passaram pela baía de Marajó e pela foz do
rio Amazonas (onde Pinzón descreve que o rio tinha 90km de uma margem a outra
e, essa expedição deu o nome de “mar dulce” a esse rio), depois foram rumo ao
Caribe. Portanto, Vicente Pinzón é considerado por muitos historiadores o
primeiro europeu a alcançar as terras que viriam a ser o Brasil.
Pedro Álvares Cabral comandou a segunda armada portuguesa com o objetivo de consolidar as rotas e estabelecer relações mercantis nas Índias, dando continuidade ao trabalho de Vasco da Gama. Mas, indícios de viagens anteriores e notícias das descobertas feitas pelos espanhóis trouxeram a expedição de Cabral para essas novas terras, diante disso, a expedição de Cabral pretendia tomar posse das novas terras em nome da Coroa de Portugal, tendo em vista o Tratado de Tordesilhas. A armada portuguesa aportou no litoral baiano, em abril de 1500 e, após um mês de permanência, seguiu viagem para a Ásia.
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| Comparação das rotas de navegações para o território que
viria a ser o Brasil, rotas essas realizadas por Vicente Pinzón e Pedro Álvares
Cabral. |
Já Henrique
VII, rei da Inglaterra, interessou-se nas explorações das terras do norte
da América, e ele contratou o veneziano Giovanni Caboto para isso. Giovanni
Caboto tomou posse das terras onde fica o atual Canadá em nome reino da
Inglaterra, em 1497.
Tendo em vista essas expedições, nesse
período acumulavam-se as evidências de que as novas terras encontradas seriam
contínuas e de que se tratava de um novo continente e não de partes da Ásia.
Isso levou os europeus a fazer o reconhecimento das novas terras em busca de
recursos e uma passagem para o mar que os levaria às terras das especiarias (a
Ásia). Diante disso, Fernando de Aragão empenhou-se em resolver essa questão,
pois ele decidiu enviar expedições para determinar a parte de Castela nas
terras recém-descobertas e procurar uma passagem para o oeste. O Pacífico foi
avistado pela primeira vez por um europeu em 1513, em uma expedição organizada
no atual Panamá, onde foi fundamental as informações obtidas com os nativos.
Os reis espanhóis decidiram explorar uma passagem para o oceano Pacífico através de rotas marítimas, contornando a América pelo sul. A serviço da Espanha, o português Fernão Magalhães adentrou o Pacífico em novembro de 1520. Em março de 1521, Magalhães chegou às ilhas de São Lázaro, depois denominadas de Filipinas; no mês seguinte, ele foi morto em confronto com nativos de uma das ilhas do arquipélago. Diante disso, Juan Sebastian Elcano assumiu o comando da expedição, e essa expedição contornou o cabo da Boa Esperança e completou a primeira circunavegação da Terra. Em setembro de 1522, a nau Victoria chegou ao porto de Sevilha com 18 sobreviventes e uma carga de cravo, canela e noz-moscada, cujo valor tornou a viagem lucrativa do ponto de vista financeiro. Essa viagem resultou na descoberta de uma passagem para o oriente através do novo mundo, resultou também na comprovação empírica da esfericidade da Terra e na indicação de que a sua circunferência seria superior àquela estimada por Ptolomeu.
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| Rota da primeira circunavegação do planeta, essa rota foi realizada pelo navegador Fernão Magalhães a serviço da coroa espanhola. |
A denominação de América ao novo continente foi uma homenagem ao navegador e cosmógrafo Américo Vespúcio, por ter sido ele o primeiro a explicitar a ideia de que aquelas terras seriam um Novo Mundo e não partes da Ásia. Sobre esse assunto, há três cartas que foram escritas pelo próprio Colombo, durante suas respectivas viagens e que foram enviadas aos reis Fernando e Isabel, nessas cartas persiste a interpretação do navegador de que essas ilhas que ele encontrou fariam parte da Ásia. Já entre os escritos de Américo Vespúcio tem uma carta de julho de 1504, em que ele descreve os resultados dessas expedições e anuncia: “Concluindo, fui à região dos antípodas, que, pela minha navegação, é a quarta parte do mundo”.
Avanços nas Ciências
À medida em que avançavam as explorações dos europeus, aprimoraram-se os instrumentos (bússola, astrolábio, quadrante, sonda, barquinha) e os procedimentos de coleta de informações, que abrangiam dados de navegação (ventos, correntes, detalhes das costas), posicionamento geográfico, portos e áreas de abastecimento, produtos de interesse comercial e indicações sobre os povos e regiões alcançados.
Portugueses e espanhóis montaram nos
seus respectivos países, organizações voltadas para a navegação e o comércio
ultramarino, as quais se responsabilizavam também pela produção, guarda e
controle de documentos e informações relevantes. Os órgãos criados para isso
foram a Casa da Índia de Lisboa, criada em 1501, e a Casa de Contratación de
Sevilha, criada em 1503.
Ao mesmo tempo, avançavam as representações cartográficas das novas regiões encontradas. Essas viagens, em especial a circunavegação de Magalhães e Elcano, colocaram novamente em discussão as feições gerais e as dimensões do mundo. O mestre Juan de La Cosa, participante das duas primeiras expedições de Colombo e da expedição de Vespúcio, elaborou, logo após essa viagem, em 1500, a primeira carta onde constam as novas terras descobertas por espanhóis e portugueses (o primeiro mapa que aparece o que viria a ser o Brasil). A Carta apresenta uma massa de terras que se estende pelos dois hemisférios - supostamente as costas da Ásia, conforme o entendimento de Colombo e de seus oficiais, inclusive do próprio La Cosa.
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| Mapa Mundial produzido por Juan de
la Cosa em 1500, nele é possível observar que La Costa representou a América
como se fosse parte da Ásia. |
Referências Bibliográficas
A expansão europeia dos séculos XV e XVI: contribuições para uma nova descrição geral da terra. Disponível em: https://revistas.ufpi.br/index.php/equador/article/view/854/0
Padrão de S. Jorge, ponta Padrão foz rio Zaire ou Congo. Disponível em: http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2010/05/o-padrao-s-jorge.html





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