Império Bizantino: da formação ao fim

Império Bizantino

O Império Bizantino era extenso, abrangia várias regiões onde hoje está; o sul da Europa Ocidental e Oriental, o Norte da África, a Ásia Menor, Além de várias regiões litorâneas do Oriente Médio. O nome “Bizantino” deriva de Bizâncio, que por sua vez, era uma antiga colônia grega, e, por sua excelente localização o imperador Constantino em 330 d.C. remodelou a cidade, criando assim, uma nova cidade que ele a batizou de Nova Roma. Posteriormente ela foi elevada a capital do Império Romano do Oriente, e rebatizada de Constantinopla, que significa “cidade de Constantino”. Embora muitos povos fizessem parte do Império Bizantino e muitas línguas fossem faladas, o povo grego foi um dos povos que mais influenciou a cultura bizantina, diante disto, a língua oficial do império era o grego. É importante frisar aqui que esse povo se denominava e se sentia como romanos, pois esse império era a continuação do império romano. Já o nome "Império Bizantino" foi designado no século XVI por um historiador alemão (menos de cem anos depois da queda do império bizantino, que ocorreu na metade do século XV).
Enquanto o Império Romano do Ocidente foi conquistado pelos germanos e a ruralização e os feudos se tornaram a economia e o sistema de produção predominante na Europa Ocidental. Na Europa Oriental, a cidade de Constantinopla era conhecida como Porta do Oriente, pois, estava localizada entre a Europa e a Ásia e todo o comércio entre o Mar Negro e o Mar mediterrânico passava obrigatoriamente por Constantinopla, por isso, a cidade era um dos maiores centros comerciais e urbanos do mundo, recebendo pessoas e mercadorias de diversas parte do Oriente e do Ocidente. Além disso a cidade de Constantinopla era cercada de água por três de seus lados e isso facilitava a sua defesa.
Já o aspecto político e religioso em Constantinopla se fundia, pois a religião cristã era que fundamentava o poder do imperador, direcionava o dia a dia das pessoas, fornecia os temas das obras de arte e legitimava a política externa. O Estado Bizantino era uma Teocracia, o imperador se considerava o representante de Deus na Terra, portanto o imperador era autoridade máxima em assuntos políticos e religiosos (isso também pode ser chamado de cesaropapismo, que é a junção de duas palavras, “cézar” que significa imperador e “papa” que é a autoridade máxima da igreja). Era ele (o imperador) quem escolhia o patriarca de Constantinopla – o cargo de patriarca era o mais alto da Igreja Bizantina e o segundo cargo mais importante do império, pois, o patriarca era uma espécie de Papa naquela região, além disso, o Patriarca de Constantinopla assessorava o imperador na política – e como a língua oficial era o grego, o imperador recebia o nome de Basileus (Basileus em grego significa aquele que possui a autoridade suprema) e seu poder ilimitado fazia dele um autocrata.
O Imperador Justiniano que viveu no século VI, foi um dos mais importantes do Império Bizantino. Justiniano esforçou-se para reunificar o Império Romano, reconquistando as terras perdidas para os germanos na Europa Ocidental e Norte da África. Após ofensivas bem sucedidas ele reconquistou boa parte do Norte da África, a península Itálica e o sul da Espanha, passando, com isso, a controlar a maior parte do comércio no Mar Mediterrâneo.

Mapa das conquistas feitas por Justiniano, conquistas essas que abrangem o Norte da África, o Oriente Médio e uma parte da Europa.
DUBY, Georges. Atlas histórico mundial. Madri: Editorial Debate, 1992. p. 58.

       Para custear essas guerras de conquistas, Justiniano ordenou constantes aumentos de impostos, e que, muitas vezes eram cobrados com métodos violentos, essa situação gerou descontentamento e revolta. A mais popular das revoltas contra o poder imperial bizantino aconteceu em 532 no hipódromo de Constantinopla e ficou conhecida como a Revolta de Nika. O estádio estava lotado e os torcedores se dividiam entre os Verdes de tendência popular, e os Azuis, de perfil aristocrático. Verdes e Azuis eram ao mesmo tempo torcidas esportivas e partidos Políticos, e, raramente os dois partidos se união, mas foi isso que aconteceu em 532. No intervalo entre duas corridas os Verdes organizaram uma manifestação contra as altas dos impostos e o abuso de autoridade, os Azuis juntaram-se a eles e marcharam para o palácio imperial aos gritos de Nika! - que significa “vitória” – e o nome da revolta vem daí. Porém o imperador Justiniano ordenou uma forte repressão a essa manifestação, que ocasionou em 35 mil mortos.
Justiniano também preocupou-se com as bases legais da vida em sociedade. Para isso, encarregou juristas para reunir e atualizar as leis romanas. Esse trabalho resultou no Corpus Juris Civilis, que, possibilitou ao Ocidente o conhecimento do direito romano e serviu como base para muitos códigos civis atuais, inclusive o brasileiro. Esse Corpus Juris Civilis, se tornou uma obra intensa e formada de quatro partes:

I – Código de Justiniano – Compilação das leis romanas desde o século II. II – Novelas – Novas leis feitas por Justiniano. III – Digesto – As leis escritas de uma forma mais simples, para fácil compreensão do povo. IV – Institutos – Um resumo para ser utilizado pelos estudantes de Direito. Como já foi mencionado aqui, a religião cristã exercia forte influência no Império. A arquitetura e a decoração das igrejas dão a sensação de uma presença divina, a cúpula imensa representava o céu, e no interior da cúpula a imagem de Jesus olhava para os fiéis, seja ela em pintura ou mosaico. Outra expressão da religiosidade bizantina era a crença nas relíquias (essas relíquias eram objetos que eles diziam ser santificados, por exemplo, o pedaço da cruz em que Jesus foi crucificado, a túnica de Maria e etc.), eles acreditavam que essas relíquias eram milagrosas e por conta disso, a devoção aos ícones - imagens ou pinturas de cristo ou dos santos - eram um importante elemento da Igreja Bizantina. Os principais fabricantes de ícones eram os monges, que enriqueciam com essa atividade. Diante disso, em 726, por opção religiosa e política, o imperador Leão XIII proibiu o culto às imagens religiosas (ícones) e ordenou a destruição dessas imagens por todo o império. A população bizantina se dividiu entre os que eram favoráveis e os que eram contrários aos ícones, os “iconoclasta” (“icono”, deriva de ícone, “clasta” significa quebrar). Essa disputa ocasionou uma guerra civil que ficou conhecida como “Questão Iconoclasta”, e durou até 843 d.C., quando a Imperatriz Irene restabeleceu o direito do culto das imagens. Com o passar do tempo o cristianismo bizantino foi se diferenciando do cristianismo ocidental (romano): entre os bizantinos, a língua falada na celebração religiosa era o grego, e, entre os cristãos ocidentais, era o latim; os rituais bizantinos apelavam para o sentimento, por exemplo, as passagens da bíblia eram teatralizadas a fim de envolver mais os fiéis, enquanto os romanos eram menos emocionais; Outra diferença é que os bizantinos não acreditavam que houvesse purgatório. Enquanto isso, as relações entre o papado (romano) e o patriarcado (bizantino) foram piorando, pois tanto o papa quanto o patriarca se consideravam dirigente supremo de toda a cristandade. Essa rivalidade crescente entre Roma e Bizâncio acabou levando ao rompimento dos laços entre elas: em 1054 a igreja cristã se dividiu em duas: Igreja Católica Apostólica Romana, chefiada pelo papa, e Igreja Cristã Ortodoxa Grega, dirigida pelo patriarca. A separação entre as duas igrejas ficou conhecida como Cisma do Oriente. Conforme o Império Bizantino foi expandindo suas fronteiras, o cristianismo ortodoxo dos bizantinos também se expandiu, diante disso, alguns povos converteram-se ao cristianismo ortodoxo, por exemplo, os russos (deram origem a Igreja Ortodoxa Russa), os egípcios (deram origem a Igreja Ortodoxa Copta) e entre outros. Já a arte bizantina absorveu elementos gregos, romanos e orientais, mas sua singularidade está na forte inspiração religiosa, por exemplo, ao ser ilustrado a figura do Imperador, a Imperatriz e algumas autoridades do império, era bastante comum colocar auréolas envolvendo suas cabeças, isso servia para dar uma ideia de santidade nesses personagens. Entre os bizantinos, a principal expressão artística é o mosaico, esse não tinha função apenas decorativa, visava também ensinar as pessoas que não sabiam ler, passagens importantes da bíblia. Já no campo da arquitetura, o melhor exemplo é a Basílica de Santa Sofia (Igreja da Sagrada Sabedoria ou Hagia Sophia), uma construção que mescla arquitetura grega e oriental e foi construída no século VI por Justiniano.

Mosaico da Virgem Maria centralizada no meio, ao seu lado esquerdo está Justiniano (com a maquete da Hagia Sophia nas mãos) e no seu lado direito está Constantino (com a maquete da cidade de Constantinopla nas mãos)
Mosaico da Virgem Maria entre Justiniano (Com a Hagia Sophia nas mãos) e Constantino (Com a cidade de Constantinopla nas mãos). Hagia Sophia em Istambul, Turquia.
A partir do século XI, o Império Bizantino começou a perder territórios para diferentes povos. Com a perda desses territórios, o Império perdia por consequência: os impostos, os soldados e os navios que essas regiões lhe forneciam. Cada vez mais fragilizado, o império ficará reduzido a cidade de Constantinopla. Em 1453, os turcos otomanos fizeram um cerco na cidade e a conquistaram sobre balas de canhões, equipamento moderníssimo para a época (um artesão búlgaro construiu o maior canhão daquela época, e ele foi usado para conquista de Constantinopla), com isso o sultão turco Maomé II conquistou Constantinopla, pondo fim ao Império Bizantino.
A conquista de Constantinopla foi tão marcante, que a data de 1453 d.C., pode ser considerada um dos marcos da mudança da Idade Média para a Idade Moderna. Porém esse marco ainda é discutido entre os historiadores.

Referências Bibliográficas

O Iconoclasmo Bizantino: problemas e perspectivas. Disponível em: http://www.nehmaat.uff.br/revista/2015-2/artigo05-2015-2.pdf  

O Basileos, o Imperador e o Patriarca: a sinfonia Bizantina na configuração dos ritos. Disponível em: https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1491313243_ARQUIVO_OBasileos,oImperadoreoPatriarca.pdf

Dica de série

Ascensão: Império Otomano (Disponível na Netflix, essa série retrata o cerco e a conquista de Constantinopla pelo sultão Maomé II).




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